As ruas desertas mostram a nudez das horas. Um silêncio familiar atravessa os raios de sol mortiço que iluminam os entre-olhares dos recém amantes sentados pelos bancos da praça. Há promessas para nunca cumprir e o sempre que se sussurra não passa de uma jura inocente de que a primavera vai durar para a eternidade. Pelo correr das horas dir-se-ia que o peso do ar não deixa passar o dia. Num banco de jardim, cercado de andorinhões, os meus olhos prendem-se ao fio do horizonte na boca do rio e finge grades férreas nas colunas de uma ponte suspensa das nuvens. A cinza abafada do céu acinzenta os gestos de quem passa e apenas eu testemunho. a primavera.
Que dias estes em que me sobram horas. Momentos de nada fazer, pedaços de eternidade ínfima atravessados numa tarde feita de inferno. Brutal manhã que jaz a meus pés, senhora de um futuro em que se não contam tempos. Palavras que se derretem na brisa morna que não me acalma a alma. Escorrem minutos como se fossem horas, dias.