Nasci com fúria. Antes do tempo, contava minha mãe. Já vinha de veia inchada e aspecto venioso! Minha guerra era com a vida e com as desgraças que ali vinham, sem que eu as tivesse pedido. De pequeno arrancava asas às moscas e pisava formigas. Não por sadismo, só por raiva de que pudessem apenas incomodar-me. De jovem cresci adulto e dessa mera raiva nasceu a ira. Odiei como se odeia o inferno e raivejei minhas horas sem que contasse os minutos. De nada me serviu o sorriso complacente do amigo ou a palmadinha calmante materna. Apenas o vermelho sanguíneo que me toldava os olhos. Por saciar ficou a loucura dos momentos em que não via mais nada senão o desejo de perder a cabeça e fazer tudo aquilo de que é feito o arrependimento. E mesmo depois da solidão de quem vive o silêncio irado, nada aprendi... Fica-me apenas esta delicada respiração e a certeza de que ainda não encontrei a calma com que haveria de encontar-me com a eternidade. Também este é o meu preço!
À procura do futuro nas areias do presente...