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A mostrar mensagens de 2015

Uma Barca no Rio Dos Dias

  Pendurei minhas memórias no cabide do amanhã. Voltei as costas a um passado que me foge da lembrança. Já não sou quem fui e sei que serei sempre o que hoje não sou.   Agora, no abrigo de dias por vir, dispo esse antes e deixo que o calor dos sonhos me abrace a noite do hoje. Ficam ecos que se perdem em distâncias onde se calam os silêncios!   Neste rio dos dias sem ontem, deixa-se meu destino feito barca, beijar pelo passar de um tempo que nunca foi. Vazio que reste, menos será que a montanha feita de ontem. Foram-se os remos, rasgou-se o estai e escorre minha barca como uma lágrima sobre a face das águas. Sem caminho e sem  julgar destino.   Ruboresce o horizonte a jusante, prenhe de dias idos que se escondem pelos esquecidos montes que atrás deixo, neste caminho que leva ao mar dos tempos, onde desaguam todas as lágrimas que vertem as almas feitas barcas.

Insónia

O sono chega, olhando o antes sem memória. Agora nunca dormimos! Despejamos cansaços: vergamos o ontem ao que há-de vir! Partimos! Somos mais do que chegou, e menos do que amanhã! Cada noite é um adeus! A madrugada atreve gotas de orvalho nas entrelinhas da alvorada E espraia cinza pelo acordar do mundo. Enquanto isso, tudo roda! O sono chega, acordando o dia, profundo!

Margem Sem Rio

  Ouvem-se trombetas leito abaixo: feras de vermelho quase negro, escondidas no silêncio em que os inocentes se despegam dos dias e das horas. De longe ruge a noite dos antigos e treme a madrugada.   Do fundo do meu olhar brotam os tropeços da tempestade que veio matar as estrelas. O escuro cinza remata e tapa o horizonte imaginado de outras horas, de outros dias. Pelas escarpas calam-se ínfimos silêncios e pressente-se o dia que ninguém quer ver nascer.   Ao coração dos homens chega agora o canto de uma deusa feita de ferro e fogo. Os céus revoltam-se contra o mar que dança e desacerta o fim do mundo. A lua feita em quatro cobre-se de um manto de luzes negras e ribombam faíscas em troar de avisos. O néctar da guerra escorre pelas serras e aconchega o último sono dos condenados. O canto da trombetas desfia o ar da madrugada e tinge de gritos o amanhã.   Já foram águas que daqui levaram rios de gente e terra feita aquém-vida e sobretudo, rios de murmúrios. Restinga moribunda

Terras À Vista

Tropeçou meu destino em fim de tarde!  O verde-azul do horizonte enche-se de sangue por entre voos de gaivotas e gritos de dia sem história. Entretanto, meus olhos que, mais do que rios, têm mares infinitos e cristalizam os dias passados em doces memórias, empedreceram nos minutos que foram muros de minhas horas de vida.  De pouco valeu ser mais que gente e menos que bicho: tudo em redor mais não foi que palavra feita vento e sal. Memórias de cada onda que passou meus olhos, inundam a areia onde se espraiam agora as maresias da minha infância.  Só, como todas as horas, deitei corrida ao fim do mundo. Em sonhos, mais que em passada larga e destemida, cheguei quase tarde. Fui certeza e logro que me levou sem destino marcado ao encontro de um outro eu que não aquele. Fiz da noite capa de um destino que não cabia noutro lugar e nem podia: que eu sou feito de outros escuros e outros segredos; de outros mares além dos sete que me juram. Deixei de ser partida e sou, agora, apenas cheg

A voz do GPS: Chegou ao seu destino!

São palavras do GPS, metalizadas e frias de emoção. E temos aquela sensação estranha de saber se ficamos ou não contentes por chegar ao "destino", qualquer que seja. E quem não quereria viver a vida como se fosse um programa de GPS com o percurso calculado, previsão de chegada, estado da via, etc.? Eu não. A minha vida foi feita de estradas e encruzilhadas, sem GPS que me valesse. Olhando atrás só posso estar grato por, apesar dos "avisos à navegação" de vontades alheias, por bem intencionadas que fossem, ter feito as escolhas que fiz, as boas e as más, que me ensinaram tudo aquilo de que já não vou precisar nesta vida. Talvez, e o mais certo, é vir a precisar de tudo isso quando chegar ao momento que tanto é "chegada" como partida. "Partir" e "chegar" são as duas faces da mesma moeda. Quando começamos a viagem, deixamos atrás o "peso" dos minutos, horas e dias que fizeram parte daquele passado. E não voltamo

Já Não Quero Que a Saudade Regresse!

  Os amigos do princípio eram os companheiros do sonho de infância, povoando o imaginário de aventuras em que do nada se fazia tudo: bastava sonhar! Navegámos dias de todas a cores e, às vezes, tantas, só a preto e branco. Mas o que queríamos mesmo era voar nas asas do sonho. Éramos crianças!   Desses tempos me chegam aguareladas memórias e de quando em vez, um pequeno arrepio de tristeza esfria-me a nuca. De tão novo me ficaram lembranças de companheiros em quem, já tão cedo, vi mares de egoísmos e maldades das que não alcanço lembrar mais do que esse ligeiro frémito. Éramos crianças!   Fomos crescendo e, no meu mundo de aventuras, arrastado às costas da família andarilha, de terra em terra, fui deixando e colhendo em toda a parte saudades. Não lembro nomes. Recordo árvores, mato grosso e escuro, em recantos de aventura; savanas poeirentas, lar de feras; picadas de longos, largos e fundos trilhos; areias escaldantes, mordidas de pinha casuar; mar lúcido, feito esmeralda e correr