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A mostrar mensagens de novembro, 2015

Uma Barca no Rio Dos Dias

  Pendurei minhas memórias no cabide do amanhã. Voltei as costas a um passado que me foge da lembrança. Já não sou quem fui e sei que serei sempre o que hoje não sou.   Agora, no abrigo de dias por vir, dispo esse antes e deixo que o calor dos sonhos me abrace a noite do hoje. Ficam ecos que se perdem em distâncias onde se calam os silêncios!   Neste rio dos dias sem ontem, deixa-se meu destino feito barca, beijar pelo passar de um tempo que nunca foi. Vazio que reste, menos será que a montanha feita de ontem. Foram-se os remos, rasgou-se o estai e escorre minha barca como uma lágrima sobre a face das águas. Sem caminho e sem  julgar destino.   Ruboresce o horizonte a jusante, prenhe de dias idos que se escondem pelos esquecidos montes que atrás deixo, neste caminho que leva ao mar dos tempos, onde desaguam todas as lágrimas que vertem as almas feitas barcas.

Insónia

O sono chega, olhando o antes sem memória. Agora nunca dormimos! Despejamos cansaços: vergamos o ontem ao que há-de vir! Partimos! Somos mais do que chegou, e menos do que amanhã! Cada noite é um adeus! A madrugada atreve gotas de orvalho nas entrelinhas da alvorada E espraia cinza pelo acordar do mundo. Enquanto isso, tudo roda! O sono chega, acordando o dia, profundo!

Margem Sem Rio

  Ouvem-se trombetas leito abaixo: feras de vermelho quase negro, escondidas no silêncio em que os inocentes se despegam dos dias e das horas. De longe ruge a noite dos antigos e treme a madrugada.   Do fundo do meu olhar brotam os tropeços da tempestade que veio matar as estrelas. O escuro cinza remata e tapa o horizonte imaginado de outras horas, de outros dias. Pelas escarpas calam-se ínfimos silêncios e pressente-se o dia que ninguém quer ver nascer.   Ao coração dos homens chega agora o canto de uma deusa feita de ferro e fogo. Os céus revoltam-se contra o mar que dança e desacerta o fim do mundo. A lua feita em quatro cobre-se de um manto de luzes negras e ribombam faíscas em troar de avisos. O néctar da guerra escorre pelas serras e aconchega o último sono dos condenados. O canto da trombetas desfia o ar da madrugada e tinge de gritos o amanhã.   Já foram águas que daqui levaram rios de gente e terra feita aquém-vida e sobretudo, rios de murmúrios. Restinga moribunda

Terras À Vista

Tropeçou meu destino em fim de tarde!  O verde-azul do horizonte enche-se de sangue por entre voos de gaivotas e gritos de dia sem história. Entretanto, meus olhos que, mais do que rios, têm mares infinitos e cristalizam os dias passados em doces memórias, empedreceram nos minutos que foram muros de minhas horas de vida.  De pouco valeu ser mais que gente e menos que bicho: tudo em redor mais não foi que palavra feita vento e sal. Memórias de cada onda que passou meus olhos, inundam a areia onde se espraiam agora as maresias da minha infância.  Só, como todas as horas, deitei corrida ao fim do mundo. Em sonhos, mais que em passada larga e destemida, cheguei quase tarde. Fui certeza e logro que me levou sem destino marcado ao encontro de um outro eu que não aquele. Fiz da noite capa de um destino que não cabia noutro lugar e nem podia: que eu sou feito de outros escuros e outros segredos; de outros mares além dos sete que me juram. Deixei de ser partida e sou, agora, apenas cheg