Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2010

O velho "Geada"

As nuvens escuras, pesadas como as pedras em que me sento, unem aos ventos a vontade de estirar amarras. Daqui, vejo tudo! Junto ao velho cais onde cambaleiam os navios que nunca voltarão a navegar, ouve-se o ranger cantado dos cabos soltos em feitio de melodia estranha, como se um maestro louco abandonasse a orquestra num rompante enraivecido. Os velhos barracões de mais ferrugem que chapa, assobiam e ribombam de fundo. A tempestade tinha prometido e cumpre agora a palavra dada. Sobe tonitruante a escadaria do átrio deste palco e a sua presença cala os vivos, enquanto se esconde o silêncio por entre o escuro breu de um céu sem nome. Na boca da barra espuma de raiva o mar imenso e varre os molhes de açoite em açoite. Das gaivotas nem sinal, pois que o inferno desce à terra! Só se vê um vulto: curvado debaixo das horas, ou de um destino esquecido, tendo por tecto a velha capa de oleado, finca pés, como se a tempestade fosse numa terra longínqua em que os homens só passam quando nada m

Histórias de marinheiros

De que vale sonhar infindas distâncias, quando o pesadelo não deixa que a manhã vibre solarenga? De quem são aquelas sombras que tapam o meu sol e me desviam do meu Norte? Não tenho já dias nem noites por onde passar escondido dos olhares que o destino me deita; Não reconheço no vento as vozes que um dia me chamaram como sereias no meio do mar; Os olhos derretem-se-me agora em vagas de mar salgado, desfocando os horizontes, escondendo futuros... Marinheiro de Caronte, sério imigo de Selene, busco agora quem tenha olhos e veja, ouvidos e oiça: Há uma história para contar enquanto as velas se não enfunam e os ventos não acordam. Mas quem escutará para além dos náufragos a quem as prometidas marés nem jangada deixaram? Talvez os silêncios escutem, quietamente resplandecentes na sua altivez, no seu imoto estar.