Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2012

Gaveta de Rascunhos

   Mais um texto daqueles que descobri na gaveta dos rascunhos. Setembro 2011   Fogo Fátuo   Pelo ontem traçavam caminho meus passos sem rumo. Meu ser largou amarras junto a um vago cais, para deixar em terra as palavras que meus lábios nunca soltaram. Há um fresco e tresnoitado ar que desperta mistos de felicidade e angústia. De mão dada, vento e mar mostram memórias antigas onde te via voando pela rua. Alguma delas terá tropeçado no meu respirar e caído no rio, junto à borda, para fazer de conta que o todo o sal do oceano veio daqui, deste pequeno recanto entre as pedras por onde correm as minhas mágoas. No turbilhão dos minutos, revoltos como o teu cabelo longo, arrepios quentes percorrem-me o ser ao ritmo das ondas.   Terra dentro, por onde caminham os homens, há verdes campos por onde espraias tuas tardes e despejas o fogo dos teus olhos feitos mel e incenso. A tua voz vestida de nebelina despe-se em promessas de lua nova enquanto o bater do teu coração se aninha nas m

To Be, But Not To Be

  As minhas sementes de futuro perderam-se na enxurrada de uma tempestade da vida. Os sonhos que portavam secaram a penugem e criaram belas, viçosas, penas de uma vida por gastar. Por entre os cachos de luz, pendurados pela ramagem colorida,  gotículas de espaço transvasam a felicidade de copo em copo e criam-se os momentos por onde se arrastam os que nunca souberam dizer que as coisas têm mais que ser, do que aquelas que nos mostraram quando nasceram, elas e nós.   Ficamos prisioneiros da imobilidade que nos parece saber mais do que as respostas que procuramos, entre o sonho e a realidade. Fizemos um mundo feito de nós e perdemos, no entretanto , tudo aquilo que desejámos alguma vez ter, porque tivemos e depois cuspimos fora, como quem cospe, impune, sobre as ondas do mar. Aconchega-nos a certeza de que um dia, seremos mais do que aquilo que sonhamos. Ou menos! Em todo o caso, mais do que o que nos prometeram e não cumpriram.   Nada importa porém; são mais as coisas que fazem d

Fermenta a Cidade!

  O outro lado da vida cascadeia ao longe e o ar traz-me de rastos, as Notícias de uma manhã plasmática!   Esta cinza que me acompanha os minutos de torpor, espalha-se pelo meu ser como areia movediça. Perde-se o som da rua, aplastrado contra o solo da manhã humedecida. Descambam momentos pela ladeira rodeados de auras embaciadas. No resto de um quase nada de sol, cintilam "bons dias" entre o mendigo e a figura de uma eclésia civil. O motor desafinado rasga uma tentativa de vida junto a um semáforo. Não se escuta o desbragar das sirenes do costume. Ninguém pode cair se já está no chão.   Desagua na foz da hora, o braço curto dos minutos.

As Asas De Uma Galáxia

  Desesperamos pelo medo de vermos o sonho ser lapidado pela realidade crua com que se vestem as auroras. Perdemos o sentido no rodopio da flor do vento e deixamos negra e fugidia a figura que limitou o destino encalhar nas costas do mar de noites em vão. Somos apenas um nem-grão-de-areia na esfera que se perde na imensidão de uma glória feita de minutos que carregam séculos. Cada hora espraia seu cântico nas cordas do bater de alma com que os vivos se derrotam a si mesmos.   Já quase somos o quase nada que seremos depois do fim dos dias. Caminhamos de mãos dadas com o esquecimento e fazemos juras de fidelidade a destinos que sabemos nunca nos vir visitar. Resta olhar a maré dos dias que nunca acabam em noite e das noites que nunca dasaguam na foz da manhã.   No céu incolor que as nossas asas ciam, nem deixamos o rasto do ar que respiramos, rarefeito na sua perfeita  e imota cronologia. Somos cada dia um nada mais pequeno e invisível, mergulhado numa imensa galáxia feita de pequenos

O Circo e a cidade!

Retempero forças perdidas em batalhas que nunca quis pelear. Busco agora as dúvidas que também lá deixei e regresso à certeza dos dias com princípio, meio e fim. Agora já sei que a madrugada morreu no assalto final do sol que desembainhou manhãs e arremessou tardes raiadas de horas coradas contra os escuros minutos que desdormia. E agora também sei que amanhã a batalha continua e a guerra entre mim e a vida será sempre uma interminável comédia onde não cabem papéis principais. Ao cair do pano erguer-se-ão das plateias as almas que de seguida irão representar. Senhoras e Senhores, Meninos e Meninas: o Circo está na cidade!