Avançar para o conteúdo principal

Os 7 Pecados Mortais (1) - Orgulho

Passei, confesso, pela estrada do orgulho! Como criança, adolescente ou adulto.
No princípio, apenas por necessidade, depois por inconsciência e finalmente, por estupidez!
Cada vez que olhava o espelho encontrava em mim tudo aquilo que desejava ser mas que, ignorante, ignorava!
Cada passo, cada gesto, uma certeza apenas de que o pouco (quase nada, ou nada mesmo) que tinha feito na insignificância da minha vida, era um arrepio de prazer que me invadia a espinha e fazia de mim um ser melhor que todos os outros. Certifiquei, perante mim, que todas as coisas me eram possíveis. E falhei!
Como era previsível, falhei!
Julguei meus caminhos mais longos que todos os caminhos e quando sofri, muito e muitas vezes, julguei que ninguém mais do que eu sofrera. E mesmo assim, inchei de prazer e força por poder e aprender a sofrer! E porque, como Ícaro, caí e voltei a cair (mais do que uma vez), até que aprendi a voar, achei que era também mais do que o ar que me sustentava. E da dor que me assoberbou, levantei forças que me fizeram, de novo, voar!
Quando vi que todos estavam no chão, a meus pés, julguei-me rei. E caí!
E de todas as vezes que caía, e de todas as vezes que me levantava, via no espelho um homem mais forte. E fui capaz de tudo o que não podia.
Agora, que tudo não passa da certeza de vã promessa, ainda caio. De novo! Por saber que nada mais me resta do que contar pecados, resta-me fugir apenas da vontade de ter a certeza de que ainda posso ser melhor!
E nada resta mais do que olhar o espelho e ter a certeza (que, afinal, nunca hei-de ter) de que não posso sequer dizer: Sou Eu!
Nem eu me resto nesta hora de não ser!
Este é o meu preço!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Domingo na Cidade

 As ruas desertas mostram a nudez das horas. Um silêncio familiar atravessa os raios de sol mortiço que iluminam os entre-olhares dos recém amantes sentados pelos bancos da praça. Há promessas para nunca cumprir e o sempre que se sussurra não passa de uma jura inocente de que a primavera vai durar para a eternidade. Pelo correr das horas dir-se-ia que o peso do ar não deixa passar o dia.   Num banco de jardim, cercado de andorinhões, os meus olhos prendem-se ao fio do horizonte na boca do rio e finge grades férreas nas colunas de uma ponte suspensa das nuvens. A cinza abafada do céu acinzenta os gestos de quem passa e apenas eu testemunho. a primavera.   

O "não" por princípio!

Ando muito surpreendido com o facto de ver a palavra "niilismo" por tudo quanto é lado na blogosfera. Parece que, de repente, os bloguistas se lembraram da palavra que durante anos andou escondida nos meandros poeirentos dos dicionários e nas mentes não menos poeirentas de "marrões" e professores de Filosofia. Então lembro-me da dificuldade que tive no liceu para apreender o conceito. Tinha acabado de passar pelo niiismo característico dos anos 60, incólume devido à tenra idade e não tinha a mínima ideia do que quereria dizer tal palavrão. Com o andar dos anos fui entranhando o significado e acabei por me tornar, também eu, num niilista de primeira. A negação total de valores, como princípio, faz parte do crescimento hormonal juvenil e nenhum mal vem daí ao mundo. O problema é quando esse niilismo se estende pela vida adulta e confronta os egos com a sua própria negação. Um adulto niilista é um frustrado que nunca chegará a ter certezas e que mais depressa arranja

Os 7 Pecados Mortais (3) - A Ira

Nasci com fúria. Antes do tempo, contava minha mãe. Já vinha de veia inchada e aspecto venioso! Minha guerra era com a vida e com as desgraças que ali vinham, sem que eu as tivesse pedido. De pequeno arrancava asas às moscas e pisava formigas. Não por sadismo, só por raiva de que pudessem apenas incomodar-me. De jovem cresci adulto e dessa mera raiva nasceu a ira. Odiei como se odeia o inferno e raivejei minhas horas sem que contasse os minutos. De nada me serviu o sorriso complacente do amigo ou a palmadinha calmante materna. Apenas o vermelho sanguíneo que me toldava os olhos. Por saciar ficou a loucura dos momentos em que não via mais nada senão o desejo de perder a cabeça e fazer tudo aquilo de que é feito o arrependimento. E mesmo depois da solidão de quem vive o silêncio irado, nada aprendi... Fica-me apenas esta delicada respiração e a certeza de que ainda não encontrei a calma com que haveria de encontar-me com a eternidade. Também este é o meu preço!