As nuvens escuras, pesadas como as pedras em que me sento, unem aos ventos a vontade de estirar amarras. Daqui, vejo tudo! Junto ao velho cais onde cambaleiam os navios que nunca voltarão a navegar, ouve-se o ranger cantado dos cabos soltos em feitio de melodia estranha, como se um maestro louco abandonasse a orquestra num rompante enraivecido. Os velhos barracões de mais ferrugem que chapa, assobiam e ribombam de fundo. A tempestade tinha prometido e cumpre agora a palavra dada. Sobe tonitruante a escadaria do átrio deste palco e a sua presença cala os vivos, enquanto se esconde o silêncio por entre o escuro breu de um céu sem nome. Na boca da barra espuma de raiva o mar imenso e varre os molhes de açoite em açoite. Das gaivotas nem sinal, pois que o inferno desce à terra! Só se vê um vulto: curvado debaixo das horas, ou de um destino esquecido, tendo por tecto a velha capa de oleado, finca pés, como se a tempestade fosse numa terra longínqua em que os homens só passam quando nada m...