As nuvens escuras, pesadas como as pedras em que me sento, unem aos ventos a vontade de estirar amarras. Daqui, vejo tudo!
Junto ao velho cais onde cambaleiam os navios que nunca voltarão a navegar, ouve-se o ranger cantado dos cabos soltos em feitio de melodia estranha, como se um maestro louco abandonasse a orquestra num rompante enraivecido. Os velhos barracões de mais ferrugem que chapa, assobiam e ribombam de fundo. A tempestade tinha prometido e cumpre agora a palavra dada. Sobe tonitruante a escadaria do átrio deste palco e a sua presença cala os vivos, enquanto se esconde o silêncio por entre o escuro breu de um céu sem nome.
Na boca da barra espuma de raiva o mar imenso e varre os molhes de açoite em açoite. Das gaivotas nem sinal, pois que o inferno desce à terra! Só se vê um vulto: curvado debaixo das horas, ou de um destino esquecido, tendo por tecto a velha capa de oleado, finca pés, como se a tempestade fosse numa terra longínqua em que os homens só passam quando nada mais há do que mar infindo, e lugares de ninguém.
De passo em passo, uma mão no colar da capa, outra no longo cajado, caminha por entre a rajada de ventos como um galeão por entre baixios de coral, quase em dia de calmaria.
De seu redor, o mesmo vento se amaina, o trovão esmorece, a chuva amiúda-se e o próprio céu parece querer abrir. Entre os deuses há medo! Medo daquele farrapo, que nada mais tem do que o olhar para ver os navios passar.
E sabe-os de cor: cada casa do leme seu nome, cada bóia sua data, sua sombra... Das redes lembra os remendos, dos cabazes cada palha... Só já não lembra, porque o não lembram também, os nomes daqueles outros que lhe cruzam o caminho dos dias sem saberem que serão eles mesmos, também um dia, vultos na tempestade. E aqui sentado, nesta pedra que pesa tanto como as nuvens escuras, apenas eu sei que foi por causa daquele olhar branco, como as cãs que lhe sobraram da vida, que lhe deixaram o nome com que agora mete medo aos deuses: o velho Geada!
Junto ao velho cais onde cambaleiam os navios que nunca voltarão a navegar, ouve-se o ranger cantado dos cabos soltos em feitio de melodia estranha, como se um maestro louco abandonasse a orquestra num rompante enraivecido. Os velhos barracões de mais ferrugem que chapa, assobiam e ribombam de fundo. A tempestade tinha prometido e cumpre agora a palavra dada. Sobe tonitruante a escadaria do átrio deste palco e a sua presença cala os vivos, enquanto se esconde o silêncio por entre o escuro breu de um céu sem nome.
Na boca da barra espuma de raiva o mar imenso e varre os molhes de açoite em açoite. Das gaivotas nem sinal, pois que o inferno desce à terra! Só se vê um vulto: curvado debaixo das horas, ou de um destino esquecido, tendo por tecto a velha capa de oleado, finca pés, como se a tempestade fosse numa terra longínqua em que os homens só passam quando nada mais há do que mar infindo, e lugares de ninguém.
De passo em passo, uma mão no colar da capa, outra no longo cajado, caminha por entre a rajada de ventos como um galeão por entre baixios de coral, quase em dia de calmaria.
De seu redor, o mesmo vento se amaina, o trovão esmorece, a chuva amiúda-se e o próprio céu parece querer abrir. Entre os deuses há medo! Medo daquele farrapo, que nada mais tem do que o olhar para ver os navios passar.
E sabe-os de cor: cada casa do leme seu nome, cada bóia sua data, sua sombra... Das redes lembra os remendos, dos cabazes cada palha... Só já não lembra, porque o não lembram também, os nomes daqueles outros que lhe cruzam o caminho dos dias sem saberem que serão eles mesmos, também um dia, vultos na tempestade. E aqui sentado, nesta pedra que pesa tanto como as nuvens escuras, apenas eu sei que foi por causa daquele olhar branco, como as cãs que lhe sobraram da vida, que lhe deixaram o nome com que agora mete medo aos deuses: o velho Geada!
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