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Visita à infância!




Dôr de alma dividida entre um passado recente sem sorrisos, onde o sofrimento me demarca agora as rugas e as cãs que rodeiam a face onde correm as lágrimas e um outro, longínquo, que me assoberba agora os dias e as noites em sonhos que se rompem contra a realidade de um novo dia cada vez mais triste.
Quero partir! E mesmo que a realidade me cheire sempre a coisa bem diversa destes sonhos, já não posso voltar atrás. Conto as horas de cada dia que me mantém ainda afastado de mim mesmo! Tenho mesmo que ir! Ir até onde me possam levar as lágrimas ao encontro do vento que as há-de secar!
Em terra deixarei as minhas alminhas pequeninas e levarei comigo, bem perto do coração, a saudade que me trará ainda mais lágrimas. Que também hão-de secar com o mesmo vento quente que me invade o sonho fundo!
Sei que não hei-de voltar! Sei desde já que apenas a memória me servirá de conforto! Mas já não sei como ficar; como viver mais um dia que seja neste limbo arrepiante. Ai como me dói esta espera! Quase mais do que a saudade que me espreita, lá longe, onde o sol castiga mais!
Vou porque a alma já me não deixa ficar! Ainda que a saudade tembém venha comigo e já tenha até as malas feitas. Acena-me agora como um destino sem razão a que não há como fugir.
Bem dizias, poeta: partir é morrer um pouco!

Comentários

  1. enigmáticas palavras, caro amigo.
    sem conhecer a base, o reencontro pessoal e intimista costuma ser um bom caminho.
    Desde que com a noção da constante presença (e sua influência) dos viajantes que partilham um rumo que nem sempre é só nosso.
    Mas que permanecem, por vezes, na encruzilhada da vida. E nós, e eles, somos muitas vezes um só destino. abraço: Kito

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  2. Parto, amigo Kito! Vou ver por fim as terras banhadas pelo Índico, onde os cheiros me servirão de consolo e os azuis da brisa por entre as casuarinas me hão-de aconchegar e proteger da saudade que já dói antes da partida.
    Aqui deixo mais de 3 décadas de algumas alegrias e muitos, muitos desgostos, numa tentativa de arrepiar caminho deste destino que não pedi ou que não pude escolher!
    Do lado de lá, onde os sonhos abafarão a alma atragantada de saudades, vou deixar que o meu corpo soçobre e se afunde num mar de incertezas e horas perdidas.
    Já nem sequer quero um amanhã!
    Lá longe, só o momento contará as lágrimas até que sequem e por fim, a vida assim o queira, me mostre o brilhante sorriso de um olhar limpo sobre a infância distante e um pensamento complacente pelo presente em que agora caminho, agrilhoado!
    Só tenho pena de, talvez, não poder trazer comigo, um dia, aquele olhar infinito de quem já foi mais além do horizonte! Só por um olhar desses valerá a pena ter vivido!

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  3. há pessoas que passam pelas nossas vidas. outras há que nelas ficam. pela elevação da alma e carácter. pelo que de bom souberam partilhar entre as gentes cujos saberes se mesclaram.
    tu és e serás sempre uma alma maior. estejas onde estiveres.
    desejo que aquele olhar que trespassa o horizonte regresse. renovado. límpido. desprovido de cárceres. um abraço amigo e de gratidão pelo que de bom trouxeste à vida. Kito

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