Avançar para o conteúdo principal

Terras À Vista



Tropeçou meu destino em fim de tarde!
 O verde-azul do horizonte enche-se de sangue por entre voos de gaivotas e gritos de dia sem história. Entretanto, meus olhos que, mais do que rios, têm mares infinitos e cristalizam os dias passados em doces memórias, empedreceram nos minutos que foram muros de minhas horas de vida.
 De pouco valeu ser mais que gente e menos que bicho: tudo em redor mais não foi que palavra feita vento e sal. Memórias de cada onda que passou meus olhos, inundam a areia onde se espraiam agora as maresias da minha infância.
 Só, como todas as horas, deitei corrida ao fim do mundo. Em sonhos, mais que em passada larga e destemida, cheguei quase tarde. Fui certeza e logro que me levou sem destino marcado ao encontro de um outro eu que não aquele. Fiz da noite capa de um destino que não cabia noutro lugar e nem podia: que eu sou feito de outros escuros e outros segredos; de outros mares além dos sete que me juram. Deixei de ser partida e sou, agora, apenas chegada. Como todos, até ao fim dos tempos!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Domingo na Cidade

 As ruas desertas mostram a nudez das horas. Um silêncio familiar atravessa os raios de sol mortiço que iluminam os entre-olhares dos recém amantes sentados pelos bancos da praça. Há promessas para nunca cumprir e o sempre que se sussurra não passa de uma jura inocente de que a primavera vai durar para a eternidade. Pelo correr das horas dir-se-ia que o peso do ar não deixa passar o dia.   Num banco de jardim, cercado de andorinhões, os meus olhos prendem-se ao fio do horizonte na boca do rio e finge grades férreas nas colunas de uma ponte suspensa das nuvens. A cinza abafada do céu acinzenta os gestos de quem passa e apenas eu testemunho. a primavera.   

O "não" por princípio!

Ando muito surpreendido com o facto de ver a palavra "niilismo" por tudo quanto é lado na blogosfera. Parece que, de repente, os bloguistas se lembraram da palavra que durante anos andou escondida nos meandros poeirentos dos dicionários e nas mentes não menos poeirentas de "marrões" e professores de Filosofia. Então lembro-me da dificuldade que tive no liceu para apreender o conceito. Tinha acabado de passar pelo niiismo característico dos anos 60, incólume devido à tenra idade e não tinha a mínima ideia do que quereria dizer tal palavrão. Com o andar dos anos fui entranhando o significado e acabei por me tornar, também eu, num niilista de primeira. A negação total de valores, como princípio, faz parte do crescimento hormonal juvenil e nenhum mal vem daí ao mundo. O problema é quando esse niilismo se estende pela vida adulta e confronta os egos com a sua própria negação. Um adulto niilista é um frustrado que nunca chegará a ter certezas e que mais depressa arranja

Margem Sem Rio

  Ouvem-se trombetas leito abaixo: feras de vermelho quase negro, escondidas no silêncio em que os inocentes se despegam dos dias e das horas. De longe ruge a noite dos antigos e treme a madrugada.   Do fundo do meu olhar brotam os tropeços da tempestade que veio matar as estrelas. O escuro cinza remata e tapa o horizonte imaginado de outras horas, de outros dias. Pelas escarpas calam-se ínfimos silêncios e pressente-se o dia que ninguém quer ver nascer.   Ao coração dos homens chega agora o canto de uma deusa feita de ferro e fogo. Os céus revoltam-se contra o mar que dança e desacerta o fim do mundo. A lua feita em quatro cobre-se de um manto de luzes negras e ribombam faíscas em troar de avisos. O néctar da guerra escorre pelas serras e aconchega o último sono dos condenados. O canto da trombetas desfia o ar da madrugada e tinge de gritos o amanhã.   Já foram águas que daqui levaram rios de gente e terra feita aquém-vida e sobretudo, rios de murmúrios. Restinga moribunda