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Fermenta a Cidade!

  O outro lado da vida cascadeia ao longe e o ar traz-me de rastos, as Notícias de uma manhã plasmática!
  Esta cinza que me acompanha os minutos de torpor, espalha-se pelo meu ser como areia movediça. Perde-se o som da rua, aplastrado contra o solo da manhã humedecida. Descambam momentos pela ladeira rodeados de auras embaciadas. No resto de um quase nada de sol, cintilam "bons dias" entre o mendigo e a figura de uma eclésia civil. O motor desafinado rasga uma tentativa de vida junto a um semáforo. Não se escuta o desbragar das sirenes do costume. Ninguém pode cair se já está no chão.
  Desagua na foz da hora, o braço curto dos minutos.



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