As minhas sementes de futuro perderam-se na enxurrada de uma tempestade da vida. Os sonhos que portavam secaram a penugem e criaram belas, viçosas, penas de uma vida por gastar. Por entre os cachos de luz, pendurados pela ramagem colorida, gotículas de espaço transvasam a felicidade de copo em copo e criam-se os momentos por onde se arrastam os que nunca souberam dizer que as coisas têm mais que ser, do que aquelas que nos mostraram quando nasceram, elas e nós.
Ficamos prisioneiros da imobilidade que nos parece saber mais do que as respostas que procuramos, entre o sonho e a realidade. Fizemos um mundo feito de nós e perdemos, no entretanto , tudo aquilo que desejámos alguma vez ter, porque tivemos e depois cuspimos fora, como quem cospe, impune, sobre as ondas do mar. Aconchega-nos a certeza de que um dia, seremos mais do que aquilo que sonhamos. Ou menos! Em todo o caso, mais do que o que nos prometeram e não cumpriram.
Nada importa porém; são mais as coisas que fazem de nós o que não queremos ser, do que aquelas que nos transformam no que nunca quisemos ser. Deixam-se as verdades conquistadas, em troca da certeza com que se pintam as paredes da prisão que jura pelo nosso passado.
O presente despenha-se entre o nada que se parte em meio, numa divisão de desejos com que se reconstrói o futuro que em nenhum livro foi escrito. Nem de manuscritos se grita o nome, nem de verdades se grita a mentira em que cada um de nós vive, encontra e perde, no rodopio insano das horas que estão por vir. Por enquanto, resta-nos apenas olhar o vento que passa e ser, apenas ser. Até não ser!
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