Avançar para o conteúdo principal

To Be, But Not To Be



  As minhas sementes de futuro perderam-se na enxurrada de uma tempestade da vida. Os sonhos que portavam secaram a penugem e criaram belas, viçosas, penas de uma vida por gastar. Por entre os cachos de luz, pendurados pela ramagem colorida,  gotículas de espaço transvasam a felicidade de copo em copo e criam-se os momentos por onde se arrastam os que nunca souberam dizer que as coisas têm mais que ser, do que aquelas que nos mostraram quando nasceram, elas e nós.
  Ficamos prisioneiros da imobilidade que nos parece saber mais do que as respostas que procuramos, entre o sonho e a realidade. Fizemos um mundo feito de nós e perdemos, no entretanto , tudo aquilo que desejámos alguma vez ter, porque tivemos e depois cuspimos fora, como quem cospe, impune, sobre as ondas do mar. Aconchega-nos a certeza de que um dia, seremos mais do que aquilo que sonhamos. Ou menos! Em todo o caso, mais do que o que nos prometeram e não cumpriram.
  Nada importa porém; são mais as coisas que fazem de nós o que não queremos ser, do que aquelas que nos transformam no que nunca quisemos ser. Deixam-se as verdades conquistadas, em troca da certeza com que se pintam as paredes da prisão que jura pelo nosso passado.
  O presente despenha-se entre o nada que se parte em meio, numa divisão de desejos com que se reconstrói o futuro que em nenhum livro foi escrito. Nem de manuscritos se grita o nome, nem de verdades se grita a mentira em que cada um de nós vive, encontra e perde, no rodopio insano das horas que estão por vir. Por enquanto, resta-nos apenas olhar o vento que passa e ser, apenas ser. Até não ser!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Já Não Quero Que a Saudade Regresse!

  Os amigos do princípio eram os companheiros do sonho de infância, povoando o imaginário de aventuras em que do nada se fazia tudo: bastava sonhar! Navegámos dias de todas a cores e, às vezes, tantas, só a preto e branco. Mas o que queríamos mesmo era voar nas asas do sonho. Éramos crianças!   Desses tempos me chegam aguareladas memórias e de quando em vez, um pequeno arrepio de tristeza esfria-me a nuca. De tão novo me ficaram lembranças de companheiros em quem, já tão cedo, vi mares de egoísmos e maldades das que não alcanço lembrar mais do que esse ligeiro frémito. Éramos crianças!   Fomos crescendo e, no meu mundo de aventuras, arrastado às costas da família andarilha, de terra em terra, fui deixando e colhendo em toda a parte saudades. Não lembro nomes. Recordo árvores, mato grosso e escuro, em recantos de aventura; savanas poeirentas, lar de feras; picadas de longos, largos e fundos trilhos; areias escaldantes, mordidas de pinha casuar; mar lúcido, feito esme...

O Fim Do Mundo!

Por fim chegam as consequências de uma globalização feita sem pés nem cabeça, ainda que com muitas vantagens para os chamados "países em vias de desenvolvimento". Os "ricos" deixaram de ser competitivos por causa dos altos salários e de uma plataforma de direitos sociais invejáveis. Subitamente podemos comprar os mesmos produtos por metade do preço devido ao baixo custo da mão de obra dos países "pobres" que, ainda por cima, não gastam em segurança social e em muitos casos, usam mesmo modernas formas de escravatura.   A cegueira dos governos "ocidentais", pressionados pelos lobbies das grandes empresas e do capitalismo selvagem, levou a um desemprego generalizado e ao colapso da segurança social. O ser humano passou para segundo plano e submeteu-se o interesse público ao das grandes corporações que deslocam os meios de produção para os lugares onde menos se paga pelo trabalho, mantendo o capital em paraísos fiscais para benesse de alguns. A bola...

Quo vadis, Facebook?

O Meu amigo Jorge Lemos perguntou no FB: "Facebook: quebra barreiras aproximando as pessoas ou, em sentido inverso, mata o exercício da conversa aberta, directa e na primeira pessoa? Será uma caixa de pandora?"   Ao que comentei: "O Facebook é mesmo a caixa de Pandora. Mas não só por esse motivo: a transferência da vida social efectiva em que as pessoas se encontram e partilham a vivência, para o mundo virtual em que apenas se encontram na rede, veio fazer da realidade individual um quarto fechado em que desaparecem as barreiras entre o humano e o animal. Mas não deixa de ser a maior experiência de anarquia jamais intentada pelo ser humano..."   E ele, "Não consigo, ainda, ter uma ideia formatada sobre esta nova realidade. É bem verdade que se refizeram velhas amizades e se criaram outras, novas. É bem verdade que aproximações (familiares e de amizades) aconteceram. Mas também é bem verdade ... que ao não haver uma "acareação", deix...