Se não fosse pelas paredes cobertas de prisão e pautadas de janelas com portas por onde foge um destino e entra outro, não haveria casas. O medo da solidão percorre os raios de luminosidade por onde passa a memória que desiste de pendurar-se no acaso. Pede que lhe digam ao ouvido que aquele lugar é só seu. Nos seus silêncios se perde a certeza de ser-se apenas e só quem se é. Não há lugar para rumores nas eternidades que invadem o espaço entre paredes. Nem os sonhos escapam da prisão. São horas de ter que ser mais do que que aquilo que somos e um pouco mais ainda daquilo que queremos ser. A casa é o medo do futuro: a tremura perante as ferozes garras que ameaçam o dia com que havemos de nos descobrir. A casa é tudo aquilo que cada um sonha mas que sabe que não existir além de si.
Permanente como a certeza de que morremos todos, o sonho cresce como se possível fosse que um dia, tudo se arranje de forma a que o destino se confronte, cara a cara, consigo mesmo. A casa é tecto, é palavra com que descrevemos as promessas dos deuses. São lugares habitados pelo sossego para onde foge a cidade em desespero. Juramos a Héstia senhora do Olimpo, que sua corte nos há-de fazer um dia regressar aqui. Lutamos pelo que desconhecemos e damos a vida pelo que acreditamos! Por isso e só por isso, precisamos de ter casa: para defender um sonho!
Encontro de momentos, o lar é o cofre para onde converge a matéria desnecessária com que se pinta o desejo. Calcorreia-se o logro num vaivém desesperado onde se desvanecem horizontes e morrem os próprios sonhos que se levantaram, alterosos, por entre as teias da solidão que cada um construiu para si mesmo. A cada um a sua parede!
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