Nem sei como escrever as palavras que não servem de tinta ao pincel que corre pela tela de que se faz o meu presente. Perco a hora por entre os ponteiros que marcam os traços de que é feita a minha vida. E não me sobra nada mais! Nem o relógio que até agora mediu os meus dias!
Perdi-me! Como se se perderam todos os homens antes de mim e se haverão de perder todos os que hão-de vir! Pelo caminho quis deixar sinais e setas que aos meus indicassem o caminho por onde passa o passo que não tropeça. Sei que o meu sonho tem mais poder do que eu e que nenhum de nós será um dia mais do que aquilo que fez com que possamos ser mais gente, nesse dia, para além das coisas em que nos fizeram acreditar. Venderam a minha alma e nunca perguntaram se eu tinha fome.
Viram-me passar por entre as lágrimas como um marinheiro que tende a vela por onde passa o vento que navega a eternidade. Fecharam as portas por onde entrava o ar que fazia de mim o sonho de ser tudo o que mais ninguém queria ser. E só por isso e mais nada, deixei-me pendurar na bandeira que juram ser a minha casa, o lar, o doce lar...
Deixaram que a minha alma vivesse as horas vazias de quem nunca olhou o céu. Aquele céu onde escurece a nuvem que pinta o destino com a cor do momento em que fui vida. Depois fui vazio e pouco mais!
A quem me oiça, que não são muitos, por afirmar o que sempre fui e para ser o que sempre quis, devo então dizer que, ainda que os meus dias se tornem no ocaso que a cada um dita o destino, nada impede que que o amanhã seja tudo aquilo que eu nunca quis ser. E não tenho nesta lembrança uma nuvem que sobre mim faça chover as palavras que nunca, mas mesmo nunca, ousei dizer! E se mais não puder: assim seja!
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