Pendurei minhas memórias no cabide do amanhã. Voltei as costas a um passado que me foge da lembrança. Já não sou quem fui e sei que serei sempre o que hoje não sou.
Agora, no abrigo de dias por vir, dispo esse antes e deixo que o calor dos sonhos me abrace a noite do hoje. Ficam ecos que se perdem em distâncias onde se calam os silêncios!
Neste rio dos dias sem ontem, deixa-se meu destino feito barca, beijar pelo passar de um tempo que nunca foi. Vazio que reste, menos será que a montanha feita de ontem. Foram-se os remos, rasgou-se o estai e escorre minha barca como uma lágrima sobre a face das águas. Sem caminho e sem julgar destino.
Ruboresce o horizonte a jusante, prenhe de dias idos que se escondem pelos esquecidos montes que atrás deixo, neste caminho que leva ao mar dos tempos, onde desaguam todas as lágrimas que vertem as almas feitas barcas.
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