O Meu amigo Jorge Lemos perguntou no FB:
"Facebook: quebra barreiras aproximando as pessoas ou, em sentido inverso, mata o exercício da conversa aberta, directa e na primeira pessoa?
Ao que comentei: "O Facebook é mesmo a caixa de Pandora. Mas não só por esse motivo: a transferência da vida social efectiva em que as pessoas se encontram e partilham a vivência, para o mundo virtual em que apenas se encontram na rede, veio fazer da realidade individual um quarto fechado em que desaparecem as barreiras entre o humano e o animal. Mas não deixa de ser a maior experiência de anarquia jamais intentada pelo ser humano..."
E ele, "Não consigo, ainda, ter uma ideia formatada sobre esta nova realidade. É bem verdade que se refizeram velhas amizades e se criaram outras, novas.
E Por fim eu repliquei: "O problema não está só na abertura que referes e que seria impensável noutro contexto. A mim parece que o pior de tudo no FB é que as pessoas acabam por viver uma realidade virtual que pouco ou nada tem a ver com a sua verdadeira forma de ser e acabam por confundir as coisas. Mas o mais grave é o facto de individualizar o contacto entre as pessoas e cortar os laços de partilha com quem vive de facto com o facebooker, permitindo que as pessoas se escondam por trás de uma aparente confidencialidade para poderem agir da forma que desejam (ou julgam que desejam) e não da forma a que nos obrigam as regras da moral, da ética e do comportamento de grupo. É mais fácil manter uma relação virtual em que não se tem que fazer qualquer sacrifício. Por isso tantas e tantas relações se têm desfeito. Engraçado que nos países "civilizados" as páginas do FB são muitas vezes de toda a família e não de um só indivíduo. Em Portugal passa-se justamente o contrário!
Fica muito por dizer nesta conversa/debate sobre um tema tão contemporâneo e presente no nosso dia-a-dia mas ainda há coisas que não quero deixar passar e a mais importante prende-se com o facto de me ter apercebido de uma coisa inevitável: com o andar do tempo e tal como aconteceu com o advento do telefone, aquilo que aproxima também afasta. As pessoas que vivem neste mundo virtual social acabam mais cedo ou mais tarde por se afastar dos entes queridos porque, por muito que se partilhe a vivência através de um ecrã, há sempre a necessidade de um contacto presencial que se torna cada vez mais difícil. Não é a falar com as pessoas à distância que se consegue. A quem nunca aconteceu falar horas e horas ao telefone com alguém para depois, perante o confronto pessoal, se descobrirem pequenos gestos e sincrasias que não correspondem ao molde mental que fazemos dessa pessoa?
"Facebook: quebra barreiras aproximando as pessoas ou, em sentido inverso, mata o exercício da conversa aberta, directa e na primeira pessoa?
Ao que comentei: "O Facebook é mesmo a caixa de Pandora. Mas não só por esse motivo: a transferência da vida social efectiva em que as pessoas se encontram e partilham a vivência, para o mundo virtual em que apenas se encontram na rede, veio fazer da realidade individual um quarto fechado em que desaparecem as barreiras entre o humano e o animal. Mas não deixa de ser a maior experiência de anarquia jamais intentada pelo ser humano..."
E ele, "Não consigo, ainda, ter uma ideia formatada sobre esta nova realidade. É bem verdade que se refizeram velhas amizades e se criaram outras, novas.
É bem verdade que aproximações (familiares e de amizades) aconteceram.
Mas também é bem verdade ...que ao não haver uma "acareação", deixam-se confidências que seriam impensáveis num outro contexto. O constrangimento e a timidez deixaram de ter lugar.
Muitos dos facebookers deixam aqui alertas, críticas, avisos à navegação (directas e indirectas) do que lhes vai na alma.
Vantagens? Haverá, por certo. Desvantagens? Também. o Saldo final? Não sei..."
Mas também é bem verdade ...que ao não haver uma "acareação", deixam-se confidências que seriam impensáveis num outro contexto. O constrangimento e a timidez deixaram de ter lugar.
Muitos dos facebookers deixam aqui alertas, críticas, avisos à navegação (directas e indirectas) do que lhes vai na alma.
Vantagens? Haverá, por certo. Desvantagens? Também. o Saldo final? Não sei..."
E Por fim eu repliquei: "O problema não está só na abertura que referes e que seria impensável noutro contexto. A mim parece que o pior de tudo no FB é que as pessoas acabam por viver uma realidade virtual que pouco ou nada tem a ver com a sua verdadeira forma de ser e acabam por confundir as coisas. Mas o mais grave é o facto de individualizar o contacto entre as pessoas e cortar os laços de partilha com quem vive de facto com o facebooker, permitindo que as pessoas se escondam por trás de uma aparente confidencialidade para poderem agir da forma que desejam (ou julgam que desejam) e não da forma a que nos obrigam as regras da moral, da ética e do comportamento de grupo. É mais fácil manter uma relação virtual em que não se tem que fazer qualquer sacrifício. Por isso tantas e tantas relações se têm desfeito. Engraçado que nos países "civilizados" as páginas do FB são muitas vezes de toda a família e não de um só indivíduo. Em Portugal passa-se justamente o contrário!
O fervor da rede social que invade o mundo é o motor para a individualização total da pessoa humana e o fim do chamado "núcleo familiar". Como disse atrás: uma verdadeira experiência de anarquia."
Fica muito por dizer nesta conversa/debate sobre um tema tão contemporâneo e presente no nosso dia-a-dia mas ainda há coisas que não quero deixar passar e a mais importante prende-se com o facto de me ter apercebido de uma coisa inevitável: com o andar do tempo e tal como aconteceu com o advento do telefone, aquilo que aproxima também afasta. As pessoas que vivem neste mundo virtual social acabam mais cedo ou mais tarde por se afastar dos entes queridos porque, por muito que se partilhe a vivência através de um ecrã, há sempre a necessidade de um contacto presencial que se torna cada vez mais difícil. Não é a falar com as pessoas à distância que se consegue. A quem nunca aconteceu falar horas e horas ao telefone com alguém para depois, perante o confronto pessoal, se descobrirem pequenos gestos e sincrasias que não correspondem ao molde mental que fazemos dessa pessoa?
Ou seja: aquilo com que nos deparamos no mundo virtual é uma imagem distorcida da realidade pessoal de cada um porque é, antes de mais, baseada numa imagem criada pelo "outro" que se fundamenta mais em fantasia e desejo do que numa percepção pessoal e directa, onde as pequenas coisas que fazem de cada um de nós um indivíduo diferente, ficam escondidas por trás de uma imagem que não corresponde à realidade mas antes a um mundo virtual e sonhado dessa pessoa, mais parecido com os contos de fadas. Assim, aquilo que devia ficar no mundo dos sonhos e no silêncio de cada um, torna-se inevitávelmente numa fonte de desilusão e stress que apenas prejudica a vida real das pessoas envolvidas.
A anarquia é baseada numa permissa: o ser humano deve ser verdadeiramente informado e conscientemente responsável para que o sistema possa subsistir. Caso contrário tudo se tornará num caos que a sociedade tenderá com o tempo a regular e/ou aniquilar. Neste momento as coisas parecem sorrir a Mike Zückerberg, mas a história reserva sempre surpresas para aqueles que não sabem olhar o passado e tirar dele as lições que os podem levar a um futuro brilhante em vez de a um caminho de solidão e sofrimento.
E como todas as coisas, o Facebook também cairá um dia nas malhas do esquecimento! Teremos então muito tempo para pensar naquilo que fizémos de errado!
(notícia comentada do jornal Daily Mail)
ResponderEliminarSimone Black,43 foi encontrada morta no seu apartamento depois de ter deixado uma mensagem no Facebook a dizer: "tomei todos os meus comprimidos e estarei morta dentro de pouco portanto adeus a todos".
Nenhum dos seus 1082 amigos chamou a polícia ou fez qualquer coisa para a ajudar, ainda que alguns deles vivessem a pouca distância...
Esta moça, tendo criado uma imagem com a sua própria personalidade virtual na rede do Facebook, onde tinha criado um largo nº de amigos e onde, muitas vezes antes, tinha ameaçado tirar a própria vida, foi confrontada com a realidade nua e crua do mundo virtual que respondeu da mesma maneira: virtualmente!
Não pode ser prioritariamente dada maior relevância à realidade virtual ou vamos assistir a muito mais situações destas ou piores.
As redes sociais devem ser controladas para que se possam prevenir situações similares. Depois vamos assistir a muitas perguntas para saber quem vai ter esse poder discricionário quando se tem na sua mão a vida de milhões de pessoas desde a sua informação privada a milhões de empregos relacionados com o Facebook para só falar de uma. São redes imensas que atravessam todo o espaço vital e vai crescer ainda mais.
Talvez um dia sejamos todos, desde a nascença, registados.
A maioridade aos treze?
O mundo mudou muito desde os nossos avós, pais e mesmo no nosso prório tempo em que o mundo atravessa convulções titânicas na cultura e nos modos de vida.
Virtualizar demais vai forçosamente esticar o tecido social físico com as consequências que se conhecem de situações premonitórias como quando foi com a telefonia móvel. Muitas coisas vão mudar mas, ao contrário da telefonia, será tudo muito mais forte a um nível relacional físico.
Preparar-se para os confrontos sociais que emergem, devia fazer parte dos planos governamentais de qualquer nação visando proteger não só o acesso à informação pessoal dos seus cidadãos a partir do exterior como a protejer informação cujo acesso livre pode colocar em causa a segurança nacional.
Mas este caso é apenas o abrir da fresta. O tempo dirá mas acredito, infelizmente, que o nº de suicídios vai aumentar grandemente na próxima década se não forem tomadas medidas imediatas de prevenção.
O mundo vai referir esta década como o fez na I Grande Guerra, há quase cem anos: uma tragédia que bem poderia ter sido evitada não fossem as industrias do aço e carvão e os interesses financeiros ávidos do lucro largo, fácil e garantido dos "bónus" de guerra. Tal como agora e uma vez mais!
Agora tudo será virtual mas os efeitos serão sempre sentidos na pele física de cada um. A interação entre as duas realidades tem que ser equilibrada. E neste caso só teremos a nós mesmos para julgar! Quo vadis Facebook?