Pendurado na manhã, em precário balanço, procuro em vão encontrar um poiso onde deixar cair o desejo de partir. Sobrevoam-me incertezas e sonhos de mares já navegadas por onde cruzar o meu destino. Falta pouco para sentir o vertical picar do sol calando o pio das aves. Atravessa selvagem o rio de carros ruidoso, a perpendicular da manhã. Pelas calçadas desmaiam os passos em previsão de mais um dia sem história.
Num banco apenas ensombrado, recontam-se recortes de memória nas figuras de velhos de quem foge o tempo. Ninguém lembra realmente e menos os que fizeram das estradas e caminhos as suas alvoradas e os seus espinhos.
Pela calçada arrastam-se pressas, sorriem-se desgostos e escondem-se madrugadas de cristal em estudados esgares de vida. Só do contraste da ave contra o azul profundo se esvai o tempo em que todos se afundam. Arde a pele e arrasta-se o meio-dia!
Da primeira sombra cai de madura a manhã e nos balcões tergiversados em geometria de fome, enfileiram esperas e desesperados descansos em corropio. O relógio chicoteia o fim do repasto e entra a tarde pela porta.
Afunda-se o azul claro para que, esguio, se instale o amarelo alaranjado por entre as púrpuras dos vãos de escada. Escorre a hora e cede passo, relutante, ao bulício do regresso. Pelas esquinas desencontram-se momentos e cora o céu de fatiga.
O ocaso recolhe despojos do frenesim e abre a porta. Reina a noite!
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