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Idos De Julho Em Lisboa

  A cidade estremece de modorra. Pelo dentro dos quintais se esconde a fresca tarde. Lá fora queima a sombra até! O caminho passeado lento, desencontra-se das figuras cruzadas e as almas deambulam pela massa de ar quente em ofegante necessário. Pouco resta do meio dia! E pouco menos falta para ficar mais calor.
  Ao fundo da rua, pelos lados de S. Domingos estendem-se pela sombra da velha oliveira as africanas saudades da acácia espinhosa e o chão de brilho solar cega e dói. Até o Rossio parece não querer ali ninguém!
  E nós? Que fazemos aqui? Há promessas escondidas nos nossos passos e dentro de nós salta o desejo de jurar. E calamos o dizer em troca de  um leve roçar de pele. Um arrepio fresco troca-nos os olhares no meio deste deserto. Partiremos daqui, algum dia?
  Miramos a terra como se fosse mar e tranparentam-se as fachadas para deixar passar o horizonte. Há mastros no cais! Serão do navio que nos há-de levar? Em murmurado silêncio nos sentamos na soleira daquela porta e deixamos cambalear o coração. Emaranham-se os olhos em teias sem rumo e voamos!
  A cidade quente contempla-nos de passagem e talvez sinta a brisa no bater das nossas asas. Já nada importa; já nada tem o valor do querer! Este é o momento em que o sol pinta a tua pele da cor de oiro líquido  escondido por baixo de um ponto negro carvão e no céu a lua vadia sussurra-me aos ouvidos uma canção de embalar.
  Lá fora, o tempo passa!

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